sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Barra da Costa denuncia “ verdade escondida” de Maddie e Joana

O antigo inspector da Polícia Judiciária, Barra da Costa, denunciou, sábado, aquilo que classificou como a “verdade escondida” por trás das investigações criminais dos casos “Maddie” e “Joana”, durante uma conferência no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.
Porque razão se demorou 48 horas para iniciar as buscas de Joana, e, no caso de Maddie, duas horas depois já se encontravam agentes a tratar da ocorrência? Porque é que os cães da Policia Judiciária (PJ) só entraram no terreno três dias depois do desaparecimento de Joana, e, para procurar Maddie, apareceram no dia seguinte? Foram algumas das questões que o antropólogo e antigo inspector chefe da Polícia Judiciária, Barra da Costa, considerou “fundamentais” para compreender o que falhou na investigação criminal dos dois desaparecimentos.
Quando se trata do desaparecimento de crianças, as buscas devem começar de imediato, devem ser accionados todos os meios possíveis no local, como a presença dos cães, a verificação do perímetro pelo maior número de agentes, a averiguação da existência de ADN e impressões digitais, sustentou.
Em relação ao caso “Joana”, Barra da Costa considerou que a investigação foi “mal feita e estruturada” e que “não existem provas materiais” que justifiquem a condenação do tio e da mãe da menina, fundamentada em testemunhos por falta de competência dos investigadores. Afirmou ter conhecimento de que foram encontrados quatro tipos de ADN na escova de dentes de Joana, mas não existia uma amostra de ADN da menina para comparação. Estes indícios revelaram-se inconclusivos, restando três provas materiais: duas impressões palmares, uma no exterior e outra no interior da casa, e o que se admitiu ser a impressão da face de Joana que levou à conclusão de que a criança teria sido atirada contra as paredes até morrer. O corpo de Joana não foi encontrado, e não foram reunidas provas materiais conclusivas, mas o tio e a mãe foram acusados e julgados por homicídio. O criminalista sente-se “revoltado” por considerar a investigação “medíocre”.
A relação entre a comunicação social e a PJ foi caracterizada como um “compadrio”, em que os interesses comuns predominam. Barra da Costa utilizou uma expressão de uma personagem que Vasco Santana representou para sintetizar a sua ideia: “Carneiro amigo, andamos todos ao mesmo”.
Em seu entender, a diferença na investigação dos dois casos é como a diferença dos mundos que rodeavam as duas meninas, “Abismal”, “tratados pela GNR e pela PJ de formas diferentes” o que explica com o facto de “a Joana ser de lata e viver na sucata” e “Maddie ter peso de ouro”. Para Barra da Costa , o sistema judicial português não trata de forma igualitária os cidadãos, considerando utópica a máxima de que “não há cidadãos de primeira nem de segunda”.

Maria João Fernandes

12/11/2008

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