Incubadoras de Oportunidades
Ideias, projectos e empreendedorismo são palavras-chave na compreensão da temática.
Ana Seguro e Denise Cordeiro tiveram um percurso académico semelhante, mas as suas vidas seguiram trajectos diferentes. As duas jovens são licenciadas embora em áreas distintas. O que têm em comum? Trabalham em incubadoras de empresas do distrito de Coimbra.
O principal objectivo das incubadoras de empresas é dar espaço e auxílio administrativo a novas ideias e projectos, desde que estejam revestidos de um carácter tecnológico, inovador e, preferencialmente, ecológico. Numa conjuntura de crise e recessão económica, funcionam como um balão de ar para jovens empreendedores.
Foi na década de 80 que surgiram as primeiras incubadoras um pouco por toda a Europa e Portugal não foi excepção. Desde então e, só na zona centro do país, já existem nove incubadoras de empresas. As cidades de Coimbra e da Figueira da Foz receberam o novo modelo e já se colhem os frutos.
“Concluí toda a minha formação académica na Figueira da Foz”, diz Denise com ar de mágoa. Licenciou-se na Universidade Internacional mas o canudo não lhe tem valido de muito. É recepcionista na incubadora da Figueira da Foz (IEFF). Enquanto revive a sua história, o telefone toca. Ao levantar-se, murmura a sorrir: “a minha vida é assim, não páro um segundo”.
O Parque Industrial da cidade foi o local escolhido pelos fundadores para dar corpo à Incubadora de Empresas da Figueira da Foz. O projecto base nasceu da Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz que para tornar possível a materialização se associou à Figueira Paraindústria, á agência de desenvolvimento regional “Estruturas de Investimento do Mondego”, e à “Casa do Paço” empresa de serviços de apoio à actividade empresarial. Dada a acelerada ascensão do tecido industrial e empresarial da cidade, o desenvolvimento do projecto fez todo o sentido. A incubadora tem uma vocação mais virada para as empresas de base industrial, muito embora também sirva de ninho a várias unidades de prestação de serviços.
Ana é uma mulher realizada profissionalmente. Licenciou-se em 2006 e, antes mesmo de terminar a licenciatura, o orientador de estágio, então director da IPN-Incubadora de Coimbra, convidou-a para uma entrevista. “Ainda me faltavam duas cadeiras para terminar o curso, mas fui à entrevista e consegui o cargo”, declara com entusiasmo. É gestora de projectos.
A “Cidade dos Estudantes”, é palco da IPN-Incubadora, Associação para o Desenvolvimento de Actividades de Incubação de Ideias de Empresas. Fruto de uma parceria entre a Universidade de Coimbra (UC) e o Instituto Pedro Nunes (IPN), desde 2002, já por lá passarem inúmeros projectos. A maioria surgiu nos bancos dos vários departamentos da Faculdade de Ciências e Tecnologias da UC (FCTUC). Aqui são incubados projectos finais de curso, teses de mestrado ou doutoramento. Projectos de grupo, muitos ainda com auxílio de professores que têm a oportunidade de acontecer.
“Vim para incubadora através de um POC (programa ocupacional)”, confessa Denise. Depois da licenciatura seguiram-se dois estágios: o curricular na área de psicologia clínica, e o profissional em gestão de recursos humanos. Os dois estágios não foram remunerados. A inscrição no centro de emprego foi o passo seguinte. Depois de muito tempo em casa a incubadora foi “sem dúvida uma oportunidade” já que, “conta a experiência, pelo menos é uma ocupação”, acrescenta.
O complexo figueirense é composto por 24 salas. Metade destina-se à incubação de empresas de prestação de serviços e, a outra metade à incubação de pequenas indústrias. De momento encontram-se no ninho 11 empresas. Algumas ocupam mais do que uma sala, uma situação que já tinha sido pensada antes da construção do edifício. As salas de serviços estão ligadas por portas internas e as salas de indústria têm paredes falsas, fáceis de destruir caso seja necessário mais espaço.
Depois do estágio profissional, já remunerado, Ana ficou de imediato efectiva na empresa. “Fiquei muito contente até porque gostava do trabalho e pude continuar a apostar na minha formação” revelou. Já concluiu uma pós-graduação em contabilidade e fiscalidade no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra. O trabalho consiste em avaliar a viabilidade de ideias e projectos que se candidatam à incubação.
A incubadora, vulgo de Pedro Nunes, não tem uma capacidade pré-definida de incubação. A existência de dois modelos, o virtual e o físico, é o principal motivo. O modelo virtual é ideal para empresas que não necessitem de espaço, no sentido físico, mas apenas de apoio logístico e administrativo. Ana refere que a interacção entre a empresa e o ninho não deixa de acontecer já que “todos os outros serviços continuam ao dispor destes empresários. Recebem aqui a sua correspondência, utilizam telefone, internet e as salas de reunião e conferência”.
Apesar de estar na IEFF há apenas nove meses, Denise já entrou na rotina do empreendimento. Todos a procuram para tudo, acabando assim por ter de adoptar uma postura “polivalente” como ela própria a define. Faz atendimento presencial e telefónico, organiza os documentos das várias empresas e envia-os à contabilidade, distribui o correio, faz limpeza quando necessária, toma conta do edifício. No fundo gere o funcionamento de espaço.
Na Figueira da Foz a incubação só complementa o modelo físico. As empresas têm ainda um dever a acrescentar. Toda a mão-de-obra que as empresas necessitem para o desenvolvimento dos projectos deve ser recrutada entre os desempregados de longa duração do centro de emprego local. Mais uma forma de criar novos postos de emprego e de desenvolver a economia e socialmente a cidade e o distrito. Todas as empresas devem comportar ainda um cariz ecológico, obrigatoriamente.
Quer a IEFF, quer a IPN-incubadora são associações privadas sem fins lucrativos que procuram, além de desenvolver, dinamizar não só o tecido empresarial das cidades onde se localizam, como também o de todo o distrito de Coimbra.
Maria João Fernandes