sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

“ Um café sem tabaco não funciona “

Dia 2 de Janeiro de 2008, 14h00. A chuva cai em Coimbra. Três dos clientes habituais do café “Avenida” dirigem-se à porta de cigarro na mão entre risos. Carlos, a alma do café, segue os clientes de cigarro apagado rindo e dizendo: “Não fumo há três anos mas hoje é um bom dia para retomar o vício.” No dia seguinte o café volto à velha rotina. Os cinzeiros voltaram às mesas e os clientes voltaram a enchê-los de cinza e beatas, assim como voltaram a encher o ar de fumo. Os extractores já existiam e continuaram os mesmos. A sua cor amarelecida sugere o tempo de exposição ao fumo. O ar continua pesado e carregado. Ao sairmos a roupa continua com aquele cheiro intenso como se tivéssemos fumado um maço de tabaco dentro de um cubículo fechado. A lei nada mudou na rotina do café “Avenida”. Carlos continua a meter-se com as meninas, a manusear com audácia chávenas de café e maços de tabaco, e a sossegar os clientes mais recentes “Cafés onde não se fuma? Isso é pura discriminação!”
Cerca de dez metros mais à frente, do outro lado da rua, a música é outra. Os proprietários do café D. Afonso Henriques não são fumadores e a presença do fumo nunca os agradou. Inicialmente a lei trouxe-lhes um certo alívio mas rapidamente o alívio deu lugar à ansiedade. Estiveram 17 dias sem abrir caixa, até os clientes de há anos, seduzidos pela vasta oferta de liberdade de fumo em redor, mudaram de preferência. “Café sem fumo, gente jovem e barulho não funciona”, lamenta a D. Manuela. O extractor está agora colocado por cima da máquina de tabaco, e o Sr. António olha para ele com orgulho. O seu olhar leva a adivinhar o que diz a seguir: “A extracção é óptima! Foi um dinheiro muito bem gasto. Podem estar até 100 pessoas a fumar ao mesmo tempo que o fumo não perturba.”
Para Carla, empregada do “Free Cafee”, a data de aplicação foi um assalto à caixa registadora já que, “para além de ser uma péssima altura para os clientes se habituarem a esta nova realidade, por causa do frio, o facto de ir para a rua fumar reduziu drasticamente os consumos.” Mas foi um esforço que valeu a pena. Os clientes habituais nunca deixaram de frequentar o café, respeitando sempre religiosamente a opção dos proprietários. Hoje o café reúne as condições necessárias ao suporte de fumo e os clientes podem novamente “respirar de alívio”. A extracção foi cuidadosamente planeada por um técnico que no local retirou todas as informações necessárias para que o símbolo azul figure na porta.
A porta está sempre aberta assim como as portadas das janelas. A pequena dimensão do estabelicimento (menos de cem metros quadrados) contrasta com a simpatia de quem nos atende. O “Sand and Cake” está aberto ao público, sob a gerência do Sr. Manuel, há cerca de duas semanas apenas. Apesar de não reunir as condições necessárias para que possa optar por um espaço de fumadores, o Sr. Manuel arrisca. O medo da coima é o que mais o preocupa, sendo o negócio recente e a necessidade de lucro vital. É isso mesmo que o leva a arriscar, já que a rua está povoada por estabelecimentos que permitem o fumo. De coração nas mãos, o Sr. Manuel espera, ansiosamente, pela inspecção para que possa finalmente fazer o pesado investimento da extracção.
O medo da perda de clientes e, consequentemente, de lucros assombra diariamente a maioria dos proprietários destes estabelecimentos. Alguns arriscam e olham para a lei como um entrave ao negócio, não vendo, ou não querendo ver, as vantagens a nível de saúde pública que a lei acarreta. Dos sete cafés situados na avenida, apenas um não permite o fumo, o café “Ritz”. “Esta Avenida é o paraíso para quem não dispensa um café e um cigarro”, resume a D. Manuela.

Maria João Fernandes
30/05/2008

4 comentários:

Maria disse...

Gostei tanto de andar ctg a fazer entrevistas. Fomos uma boa dupla e somos xD

Já sabes quando for pa trabalhar, tu és pivot e eu a tua operadora de camara xD

PaNtErA disse...

Lembro-me perfeitamente desta reportagem...se lembro...muito bonita mesmo...olha gostei muito...eheheheh

és uma querida Maria João, mesmo com um galo na cabeça

beijocas

=)

Romão Afonso disse...

olha que vires comigo entrevistar pessoas para reportagens não vens não tipiti

Willy_Wonka disse...

Só para dizer que hoje em dia o "Ritz" é o único que possuiu uma verdadeira extracção de fumos.

Aprovieto ainda para dizer que vim aqui "parar de pára-quedas",mas, gostei muito.